Missões Espaciais
Uma missão espacial a um cometa visa o estudo da
interação do plasma cometário com a matéria e o campo magnético interplanetário,
assim como o processo de ionização desse plasma com o vento solar. A escolha do
cometa a ser explorado é primordial, havendo maior interesse científico naquele
descoberto recentemente, pois sua composição química não deve ter sido alterada
pela radiação solar. Por outro lado, um cometa periódico é um alvo mais propício
de ser atingido porque possui diminuta inclinação, permanecendo nas proximidades
da eclíptica. Neste caso, uma sonda espacial pode ser lançada para alcançar um
cometa periódico com velocidade relativa bastante reduzida possibilitando um
consumo energético consideravelmente inferior. Uma outra condição é que o cometa
tenha bastante brilho no momento do seu encontro com a nave exploratória, de tal
modo que seja possível observar seu espectro do solo terrestre.
A primeira sonda a
interceptar um cometa foi o ICE (International Cometary Explorer), originalmente
conhecida como ISEE-3 (International Sun-Earth Explorer). Ela foi desviada em
direção à cauda do cometa 21P/Giacobini Zinner, passando por ele em setembro de
1985. Esta alteração na trajetória deste satélite foi para compensar a queda do
prestígio norte-americano na corrida espacial, que impediu a construção de uma
sonda rumo ao cometa Halley.
ICE (arte)
Copyright © NASA
A missão ao cometa
Halley, apesar de sua importância, foi uma das mais difíceis, pois consumiu
grande quantidade de energia devido ao movimento retrógrado efetuado por ele em
torno do Sol e sua velocidade orbital no periélio de aproximadamente 55 km/s.
Várias sondas viajaram em direção ao cometa Halley, alcançando-o em 1986, com o
objetivo de determinar a natureza química e estrutura física do núcleo, de
descrever a composição de sua cauda de poeira e íons, e de analisar os processos
e mudanças que ocorrem no envoltório gasoso sob influência do vento solar. Foram
duas sondas russas (Vega 1 e Vega 2), duas japonesas (Sakigake e Suisei) e uma
europeia (Giotto).
Vega
Suisei/Sakigake
Giotto
Copyright ©
NASA
Copyright © NASA
Copyright © NASA
A sonda Giotto
recebeu esta denominação em homenagem ao pintor italiano que realizou a
primeira representação do cometa Halley em 1301, no célebre afresco "Adoração
dos Magos" de Giotto di Bondone que está atualmente na capela Scrovegni. A sonda
Giotto passou em torno de 600 km do núcleo do cometa Halley em março de 1986 e
verificou que ele reflete cerca de 4% da luz diretamente incidente. Logo após,
passou a cerca de 200 km do cometa Grigg-Skjellerup, em julho de 1992.
Núcleo do Halley
Afresco Adoração dos Reis Magos
Copyright © ESA
Copyright © Giotto di Bondone
Algumas sondas
flagraram fatos inesperados, tais como a sonda Galileo que mostrou o impacto
espetacular do cometa Shoemaker-Levy 9 com o planeta Júpiter em julho de 1994, e
a sonda Ulysses que transpôs a longa cauda do cometa Hyakutake em 1996.
Galileo
Shoemaker Levy
Impacto em Júpiter
Copyright © NASA
Copyright © Hubble
Copyright © H. Hmmel (MIT)
Cometa Hyakutake
Ulysses
Copyright © Jim Martin
Copyright © NASA
A missão Deep Space
1 da NASA utilizou pela primeira vez a propulsão iônica e, após passar a 26 km
do asteróide 9969 Braille em julho de 1999, observou a 2.200 Km o cometa
Borrelly em setembro de 2001 verificando que o núcleo cometário não estava
localizado na região central da coma, pois o material era ejetado para o espaço
de um lado do núcleo. Outro aspecto interessante do cometa Borrelly que a sonda
Deep Space 1 examinou foi o seu albedo, de apenas 2,4 a 3%, considerado o objeto
mais escuro já descoberto no Sistema Solar.
Logotipo da missão
Deep Space 1
Cometa Borrelly
Copyright © NASA
Copyright © NASA
Copyright © NASA
A missão Contour
(Comet Nucleus Tour) da NASA lançada em julho de 2002 foi abandonada
devido a perda de contato com a nave em dezembro do mesmo ano, cujo objetivo era
explorar o cometa Encke, o de menor período ao redor do Sol, e o cometa
Schwassmann-Wachmann 3.
A missão Stardust da
NASA em janeiro de 2004 atravessou a 150 km da coma do cometa Wild-2 coletando
partículas de poeira que foram analisadas após o seu retorno à Terra em
2006. Em 2007, a NASA decidiu reaproveitar a nave para uma missão, denominada
Stardust NExT (New Exploration of Tempel 1), que realizou um contato com o
cometa Tempel 1 em 14 de fevereiro de 2011.
Contour
Stardust (arte)
Cometa Wild-2
Copyright © NASA
Copyright © NASA
Copyright © NASA
A missão Deep Impact
da NASA lançada em janeiro de 2005 consistiu de duas sondas. A sonda principal
teve a finalidade de sobrevoar o cometa Tempel 1 obtendo dados espectrais e
imagens. Uma outra sonda de 370 Kg chocou-se com o núcleo do cometa a 10 km/s no
dia 4 de julho de 2005. Este impacto produziu uma cratera de aproximadamente 25
m de profundidade e 100 m de diâmetro, liberando uma energia da ordem de 18,5
GJ, equivalente a 4,8 toneladas de TNT.
Logotipo da missão
Deep Impact
Cometa Tempel 1
Copyright © NASA
Copyright © NASA
Copyright © NASA
A NASA pretendia
estender a sonda até o cometa Boethin para visitá-lo em 2008, cujo núcleo tem
1,6 quilômetro de diâmetro. Ele havia sido visto durante suas passagens
anteriores pelo interior do Sistema Solar, mais recentemente em 1986. Porém, no
final de 2007, o astro havia se partido em pedaços menores, tornando inviável a
sua exploração. A NASA então decidiu deslocar a sonda Deep Impact no encalço do
Hartley 2, um cometa periódico de 1,2 km de diâmetro, 3 x 1011 Kg de
massa e período de 6,5 anos. Esta missão denominada EPOXI, que é uma combinação
de Extrasolar Planet Observation and Characterization (EPOCh) e Deep Impact
Extended Investigation (DIXI), alcançou o cometa em 4 de novembro de 2010
obtendo imagens à 700 quilômetros de distância.
Cometa Hartley 2 visto da Deep Impact
Copyright © 11/2010 NASA/Deep
Impact
Uma missão
interessante foi da sonda Rosetta da ESA lançada em 2 de Março de 2004, que
inicialmente tinha a pretensão de ir até o cometa Wirtanen, mas foi alterada
para explorar o cometa periódico 67P/Churyumov-Gerasimenko que tem um núcleo com
diâmetro médio de 4 km e período de 6,6 anos.
Rosetta
Módulo Philae
Copyright © NASA
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A sonda Rosetta
alcançou o cometa em 6 de Agosto de 2014, e com os dados obtidos foi possível
calcular a forma, a posição, o tamanho e a rotação do núcleo. O núcleo do cometa
tem uma forma estranha, dominada por um par de lóbulos unidos. O local escolhido
chamado Agilkia foi onde o módulo Philae de 100 kg pousou no dia 12 de Novembro
de 2014, logo após de se separar da nave principal a cerca de 22,5 km de altura.
A gravidade local é milhões de vezes menor que a da Terra, e a temperatura é
reduzida variando de -50 °C a -170 °C. O auge da missão ocorreu quando o cometa
se aproximou do Sol em 13 de Agosto de 2015, provocando o aumento da temperatura
e gerando fortes jatos de gás e poeira.
Após 12 anos e um
percurso de cerca de 7,9 bilhões de quilômetros pelo espaço, a sonda Rosetta,
primeira nave da história a orbitar um cometa ativo, encerrou no dia 30 de
Setembro de 2016 sua missão ao deixar de enviar sinal à Terra, depois de uma
colisão programada com o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko.
Cometa
67P/Churyumov-Gerasimenko
Copyright © 03/08/2014 ESA/Rosetta
Copyright © 06/11/2014 ESA/Rosetta
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§ All rights reserved
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